domingo, 26 de dezembro de 2010

CAMPANHA CONTRA OS DOMINGOS

Sua mãe está terminando de preparar aquele feijão com lingüiça apimentada e você se cansou de picar cheiro verde.

No caso de você ser “o” e não “a”, acabou a pelada sagrada dos domingos de manhã e o churrasco que rolou depois ainda está te estufando. Para ajudar na digestão, nada melhor que um suco de abacaxi com hortelã tomado em frente à TV enquanto espera pelo futebol de verdade, com comentários nunca antes feitos na história do “comentarismo”, por Galvão Bueno, é claro.

Mas aí bate aquela dúvida sobre a que programa assistir. Concurso: “Quem quer ser o Latino?” ou o quadro “Se vira nos 30”, que tem como atração o homem que coloca 6 limões na boca de uma só vez. E tem também Celso Portiolli reformando a casa de dona Maria (todas as sorteadas tem o mesmo primeiro nome).

Você, na hora, não acredita no que começa a assistir e dá uma de São Tomé. Pega o controle remoto, e começa a zapear de canal de novo. E... Nada muda! Continua a ver as
dançarinas da taça no Domingo Legal, os aviõezinhos de dinheiro do Silvio Santos (que eu sempre quis), as vídeo cassetadas repetidas e repetidas e repetidas de novo... Afinal, das aberrações e porcarias a gente sempre se depara quando faz a infeliz escolha (ou quando pessoalmente falta opção para) de assistir TV aos domingos.

São tantas as opções que fica até difícil escolher. O jeito é mudar freneticamente de canal para assistir um pouco de tudo. Só então você descobre que o Gugu não trabalha mais para o SBT (que lástima!), o que não altera nada, já que o programa em si continua a mesma coisa.

Nesse momento ocorre uma sinapse e você pensa: "mas que programas ruins, por que eu assisto essa porcaria?". Depois de dois segundos de reflexão(?), você muda de canal, mas não larga a telinha, afinal, logo começará o Fantástico, que há tempos deixou de ser show da vida, e que depois, começa um programa com um nome bem sugestivo, onde você se depara com pessoas que tem suas forças testadas, e suas habilidades em capotar um carro, entrar numa piscina de cobras, em um caixão de ratos, baratas e aranhas ou mesmo comer uma pizza de vermes.

Existe uma fórmula para descobrir onde esta o erro no código genético dos nada aproveitáveis programas de TV dos domingos? Há sim. Auditório! A programação dominical brasileira da televisão aberta que, é uniforme e baseada nos auditórios.
Há tempos com esta idéia, as emissoras apostaram num padrão único de programas tirando do telespectador qualquer tipo de escolha alternativa. É repulsivo!

Para quem não é a favor da generalização, aí vai uma outra opção de opinião pode ate não ser tão ruins, mas são consideráveis atrações muito semelhantes. Não tem como fugir da raia! Pra qualquer lugar que formos, teremos uma mesma impressão. E o fruto desse fenômeno se dá por causa da batalha pelos números do Ibope. A mudança não acontece por receio de investir em programas que não resultem boa audiência na guerra dominical. É mais seguro apostar em uma atração já testada, até em outros países, e colher uma audiência segura e bom faturamento!

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A sugestão é que diminuam um dia na semana, ou coloquem duas segundas-feiras. Já que mudar os programas de domingo é mais difícil.
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Em entrevista para a 90ª edição do Canal, o jornalista Leandro Lopes, na época diretor de um programa da FIZTV, apontou que muitos dos problemas da televisão brasileira foram gerados em sua origem. De acordo com Lopes, a TV nunca foi pensada como um instrumento de educação e reflexão. “Chateaubriand a queria como realização do sonho e uma via para se aproximar da política; Roberto Marinho, como realização de uma espécie de ego. São esses dois pilares que construíram a história desse veículo no Brasil”, explicou o jornalista, que também atua na Rede Minas de Televisão.

Quanto à equação programação + público, as redes de televisão merecem ser plenamente anatematizadas. Devido ao interesse comercial, elas infundem esses padrões televisivos julgando, preconceituosamente, o gosto de quem assiste.

Repare, ao público nunca foi dada uma opção consistente de programas capazes de fazer frente ao modelo já consagrado. Os índices de audiência não refletem a vontade do público, eles apenas indicam a audiência dos programas oferecidos dentro de limite estreito de ofertas. É em cima delas que o público escolhe e, convenhamos, trata-se de uma oferta reduzida e pobre.

Tem gente por aí que julga a TV não como educadora, mais sim como fonte de informação. Ledo engano. A televisão é o reflexo da sociedade. Todavia, o telespectador tem total controle sobre o que ele assiste, ele não é obrigado a ver o que está passando. Se não quiser ver determinado programa, ele pega o controle remoto e desliga a TV!

Num mundo ideal, a mudança é possível. No nosso mundo, o da realidade, é preciso de espectadores engajados e emissoras comprometidas. Um caminho seria oferecer novas possibilidades. Um mini-programa de literatura aqui, uma entrevista com um pensador ali, uma discussão filosófica acolá... Mas a televisão aberta não parece oferecer espaço para tal transição, pelo medo da perda de público e faturamento.

TV nenhuma quer arriscar perder um ou dois pontos no ibope em um domingo de sol ou de chuva, meu caro. Por isso que programas como Faustão e Gugu permanecem na tela por “anos a fio”.

A reflexão que nos leva a planear, é que não é necessário que sejamos Ph. D em TV ou comunicação social para notarmos o estado lamentável e estapafúrdio que a TV esta se encontrando.

Mario Quintana, sábio poeta, parecia discorrer exatamente sobre esse assunto quando escreveu: “A esperança é um urubu pintado de verde.” Que venha então a difícil esperança, planar como um urubu, neste pobre tubo que é a TV!

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