quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

UM TIPO BELO E EXCASSO DE JORNALISMO: O LITERÁRIO.

Prevalece hoje em dia, nas páginas sujas de jornais, um tipo de informação focado nos fatos sem importância. O típico sencasionalista. Deixa de lado as coisas que realmente temos interesse em saber, e desperta em nois com seu jeito maquiavélico de escrever e de nos mostrar  antecipar o que se passa no mundo, um interesse para ter sede de ir em busca de nos orientar-mos sobre aquilo que não deveriamos, justamente porque não tem nenhuma importância. 

Mais hoje, quando abri o site do jornal cearense O Povo, em deparei com uma matéria que faz o estilo de um dos jornalismos mais belos que existiram. Isso mesmo: ixistiram, no passado, porque hoje, pelos metivos como já expliquei, não existe mais. A matéria magnificamente escrita lá no jornal, retrata a importancia cultural de pessoas que existe na rodoviária João Tomé. Fala que a rodoviária ainda é um local de ouvir, guardar e conferir muitas belas e boas histórias. E tarz uma delas. 

Lamentável que a matéria seja pequena, mais indico. Vale a pena ler.

__________

Um lugar de saudade e muitas histórias para contar

Na rodoviária Engenheiro João Tomé, histórias se entrecruzam. Elas falam de retornos e partidas, de abraços e despedidas

A Rodoviária Engenheiro João Tomé é um lugar de pessoas que andam em fila indiana, entregam bilhetes para auxiliares de fiscal e se preocupam em saber se as bagagens já foram devidamente acondicionadas no ônibus. Afinal, carregam consigo não apenas presentes de Natal, mas ventiladores para espantar o calor no Interior e, claro, roupas de festa. Estão ansiosas para desembarcar logo cheguem a seus destinos.

Na manhã de ontem, o pedreiro Velanjo Teixeira Cruz, 32, estava cercado por sete ou oito pacotes, entre malas e sacos de supermercado abarrotados. Natural de Iguatu, levava presentes para a mãe e irmãos. “Levo uma cesta pra ela, dessas que têm de tudo um pouco”. Velanjo estava cansado. Afinal, saíra de Guarulhos, em São Paulo, às 14 horas do dia anterior. Às 21h35, aterrissou em Fortaleza. Dormiu no próprio aeroporto Pinto Martins. “Tentei dormir, mas não consegui”, disse.

Às seis da manhã o pedreiro já estava de pé. “Mas só consegui comprar passagem pras 13 horas. Estou esperando”. Para Velanjo, “foi bom e foi ruim” haver chegado a Fortaleza. “Foi bom porque finalmente cheguei e ruim porque ainda não voltei pra casa”. Pergunto ao cearense: após 11 anos morando fora, do que mais sente falta? “De Iguatu. Às vezes, o que eu mais lembro é de ir embora. Na boca da noite, quando chego do serviço, tomo meu banho e me deito na cama”. O aperto vem, implacável. “Já chorei de saudade. Não vou mentir.” Velanjo tem oito irmãos. No dia 10 de janeiro, retorna para São Paulo novamente. Só voltará a vê-los no Natal de 2011.

A história de José Fernandes de Carvalho, 30, é parecida. Cearense de Senador Pompeu, danou-se no rumo do Pará quando tinha 20 anos. Lá, transportou minério de ferro em caminhão, lixou jeans em uma fábrica e foi auxiliar de almoxarifado em outra. Motorista, ficava semanas sem ver gente, enfiado nas matas. Vieram as férias. Em Fortaleza, calhou de passar um final de semana na casa de uma amiga com quem havia saído antes de viajar. Enamoraram-se. Isso foi há sete anos.

No último dia 20 de dezembro, José Fernandes pediu Cleiciane de Sousa em casamento. Estavam num shopping da cidade. O rapaz, que hoje é técnico em informática, havia fabulado uma noite especial para ambos, e Cleiciane “só não ficou mais feliz porque as alianças ainda não estão prontas”. Pergunto a José como é a sua cidade. “É pequena e abandonada”, responde, e volta a marcar palavras cruzadas.

O motorista Manoel José de Sousa, 26, veio a Fortaleza “resolver problemas pessoais”, mas ontem mesmo embarcava de volta a Orós com a esposa Maria Isabel, 21, e o filho Manoel Mairon, de apenas quatro anos. Recostado a pacotes grandes, que continham um aparelho de som e DVD, Manoel foi sincero, mas também enigmático: “Se parasse pra contar minha história, passaríamos o dia aqui”. Antes de viajar, Manoel falou brevemente: “Acontecem coisas na vida da gente que apenas Deus pode consertar”. Disse também que Orós “é um buraco”. A esposa o corrigiu: “É um buraco, mas é bom”. O ônibus havia chegado. Tinham um Natal para comemorar com familiares.

Nenhum comentário: