quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

UM MITO QUE SE VAI... E AS LETRA BRILHANTEMENTE UNIDAS SOBRE SUA VIDA E SEU CEIFO QUE FICAM.

As ultimas horas do dia de ontem no Ceará foram marcada por um certo tumulto. Um corpo de um homem, deitado sobre um terreno no mato, olhos abertos, boné na cabeça para dificultar a visão de sua face, e um burro ao seu lado. Pose de vaqueiro. Roupas de tecido grosso, botinas grandes e apertadas e barba ainda por fazer. O vaqueiro de que se fala, não parava e se deitava espontaneamente para descansar. E não era qualquer um vaqueiro. Era um mito. Ali estava “mainha”, um nome pesado marcado nas páginas de história do estado do Ceará. E o mais: ali estava, ele morto. Com sua vida ceifada por nove tiros. Partindo de olhos abertos, como reza a lenda, deixando saudade do mundo a qual pregou desgraças.

Para entender as ultimas palavras do parágrafo anterior, precisamos voltar no tempo. Na década de 80, Idelfonso Maia da Cunha, não mais se chamaria assim. Ganharia a partir de então, um apelido que ficaria famoso por quem quer que fosse: O Mainha. Deixa os anéis de prata dos quais conseguiu se desprender com a ajuda da justiça, e contrariando o ditado, deixa também os dedos soltos e livres. Eles ali, não trabalhariam pondo força em um gatilho para ameaçar alguém. Mainha estava desarmado. Cavalgava como se estivesse pensando na tarde daquela terça, como seria sua vida. Mais não adiantava pensamentos: Era o seu dia. 04 de janeiro de 2011.

A multidão de Maranguape ate quebrou o cordão de isolamento feito pela polícia para ver com os próprios olhos, aquele da mesma maneira a qual deixou muitos por preços que ele nunca revelou. Um negócio de homem corajoso, sem medo de vingança e de ameaças, e que lhe rendeu um tempo de quase um centenário de prisão (28 anos por crimes em RN e mais 58 em semi-aberto, no CE).

Foram crimes, crimes e mais crimes. Contudo, ao invés de ser odiado, era respeitado. Nos presídios por onde era detido, Mainha era consagrado como rei. Sua coroa simbólica, era o melhor lugar da cadeia. Era o manda chuva de um lugar que nem o sol entrava. Prova disso, foi sua corajosa atuação na rebelião de 1994 no IPPS onde renderam o bispo de fortaleza, Dom Aloísio Lorscheider. Ele recepcionou o bispo e os repórteres que passavam mal no meio do fogo e da confusão, em seu aconchego que a justiça lhe reservara. Mais ainda assim, Via a vida nascer no escuro e repousar no sombrio. Afinal, era uma cadeia o seu abrigo. Abrigo este, que ele foi com o tempo se acostumando...

... Mas o tempo passou, e Mainha foi solto. Vivia por aí, sem dar pistas por onde passava, com quem andava e muito menos onde ficaria em seu período de moradia curta que fazia nos municípios. Ontem, foi pego pela traição. Saiu de casa na hora do almoço para morrer. Saiu para acabar com sua história e virar um mito da pistolagem no Ceará.

Mas em meio á suas histórias de cinema, a polícia terá um novo trabalho pela frente. Um mistério a se desvendar na verdade. Quem o matou? Imagine, o quão será árduo a incessante busca da reposta de quem seriam os dois homens que chegaram em um carro preto, e brincaram com a vida de mainha  fizeram do criador, a criatura.

Aquele que tanto o fez, agora, estava deitado pelos feitos que o consagrasse.
Responder a esta pergunta, é desvendar um enigma. Mainha deveria ter vários inimigos, muito embora sempre pregasse que “não matava por vingança e sim por honra”.

Boa sorte para a polícia. Alívio para os marcados para a morte. Paz na terra e descanso para o mainha. Que seus 55 anos de trajetória na pistolagem, sejam perdoados. Idelfonso Maia da Cunha. Talvez, em sua coroa, um recado de muitos: quem com ferro fere, com ferro será ferido.

//AVELINO NETO

Viu como é fácil decorrer linhas sobre alguém que tem fama e carregar consigo um fardo de várias histórias que, se pesquisadas e reviradas, nos rendem boas laudas de apuração e escrita? Eu mesmo escrevi antes do almoço, antes de uma da tarde, no mesmo horário do fato. exatos 24 horas depois.

Os jornais de hoje no Ceará chegaram às bancas com textos de repórteres, que tartaram da morte do pistoleiro Mainha, como um tonificante na inspiração por suas letras que, unidas, renderam excelente textos e de fascinante leitura. Quem provar verá que as palavras discorrerão com facilidade, harmonia e ternura. Nunca foi tão fácil falar de alguém tão difícil de ver. Mais o feito, foi realizado com maestria.

Ressalva apenas para algumas observações: “Diário do Nordeste”, e Jornal “O Povo”, os principais jornais do Ceará, haja vista que hoje se tornam referência pois foi o estado onde se dramatizou o caso, traz matérias belíssimas. É literalmente a morte tratada sem sensacionalismo. Tratada com literatura. Jornalismo literário. É o fato transformado em história.

O “Diário do Nordeste” foi preciso na cronologia dos fatos que envolveram Mainha. Trouxe um Box para dinamizar a leitura, e facilitar a compreensão do leitor, para aquilo que tomou uma página inteira na sua editoria de polícia.
Transformou o fato em história e ainda analisou a trajetória da vítima sob o olhar de um sociólogo.

Contudo, o Jornal O Povo, foi campeão em desenvolver suas laudas e trazer para o público-leitor, uma riqueza de detalhes. Diferente do “Diário”, “O Povo” acreditou que a vida de Mainha já era uma história, e por isso, não era merecido ser contada como o tal. O fato, todos já sabiam e o Jornal, usou suas folhas da real maneira como se devia: trouxe horas após o ocorrido, mais detalhes á cerca da morte do homem, mais com um, porém: foi contada em forma de narração. Detalhou sua vida de buscas feita pela polícia na visão de um delegado (que o jornal não identifica), cronologou ano a ano (e não fato a fato, como fez o jornal concorrente) e mais detalhadamente os principais marcos que envolviam Mainha, falou de sua fama de pistoleiro, trouxe a confirmação da polícia que ele recebia ameaças como uma primeira resposta na dúvida do leitor de quem o matára, publica em formato PDF uma entrevista que Mainha concedeu ao jornal em 91, e ainda retratou como era o Mainha em pessoa, não em mito.

Uma análise impressionante e campeã do “O Povo”, haja vista que “Diário do Nordeste” é líder em apuração e detalhamento de fatos que merecem ser rotulados como Grandes reportagens (como foi o caso da prisão da quadrilha acusada de assaltar os bancos no interior do Ceará. “Diário”, deu um banho na apuração do “O Povo”, que trouxe apenas três colunas de detalhes, e o restante da página, de cansativas publicidades).
 
Aqui, publico os textos dos dois jornais. Apreciem, julguem e se informem. Eu lhes afirmo: será uma sabedoria muito melhor, mesmo para quem não gosta de fatos policialescos, do que, caso contrário, se obrigar a assistir á programas policiais no horário do almoço que mostram repórteres imaturos em narrativas e que beirando o corpo, desfocam a imagem com sua voz ao fundo: “ai esta, o corpo de Mainha!” (É o lógico! E não é a morte que queremos saber, dela, já sabemos.)

__________
DIÁRIO DO NORDESTE

PISTOLEIRO "MAINHA" SOFRE UMA ENBOSCADA E ACABA FUZILADO.
Bandido que ficou famoso nos anos 80 como o maior assassino de aluguel do Nordeste foi morto com nove tiros.  


Nove tiros de pistola Ponto 40 ceifaram a vida e encerraram definitivamente a carreira de crimes daquele que já foi considerado o maior pistoleiro do Nordeste brasileiro. Passavam poucos minutos do meio-dia de ontem, quando Idelfonso Maia Cunha, o ´Mainha´, 55 anos, teve seu encontro com os homens contratados para matá-lo.

O encontro fatal aconteceu ao estilo que o pistoleiro sempre impôs nos longos anos em que foi literalmente caçado pela Polícia cearense. ´Mainha´ estava montado em burro, usava botas e esporas, além de um boné na cabeça para proteger-se do sol e, ao mesmo tempo, dificultar sua identificação. Mas, desta vez, estava desarmado. Dois homens, ocupantes de um carro preto, atacaram o matador de aluguel em um pequeno matagal, na esquina das ruas Samambaia e Encontro das Águas, no Conjunto Prourb, no bairro Novo Maranguape.

Fuzilado
Segundo o perito criminal Robério Abreu, da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), foram contados nove ´buracos de bala´ no corpo de ´Mainha´. Um deles na cabeça. Os demais foram distribuídos no braço direito, no peito e abdome. O matador de aluguel que fez história na bandidagem nordestina nos anos 80, tombou ali mesmo. O animal que ele montava foi atingido por três balaços.

"Foram muitos tiros. Ouvi tudo, pois estava em casa na hora do almoço", contou um morador próximo dali.

Logo a notícia da morte de ´Mainha´ se espalhou na região de Maranguape e chegou aos órgãos de imprensa da Capital. Uma multidão seguiu para o local, obrigando a Polícia Militar a fazer um cordão de isolamento que acabou rompido.

Investigar
Presentes ao local do fuzilamento estiveram várias autoridades, entre elas, o superintendente da Polícia Civil do Ceará, Luiz Carlos Dantas; o delegado de Maranguape, Aroldo Mendes Antunes; o diretor-adjunto da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Franco Pinheiro; e o titular da Divisão Antissequestro (DAS), delegado Andrade Júnior.

Tanta autoridade no local de um assassinato se justifica. Durante mais de 10 anos, ´Mainha´ foi caçado no Nordeste brasileiro e até em outras regiões brasileiras. Em 1987 escapou de um cerco policial na fazenda do agropecuarista Domingos Rangel, no Município de Castanhal, no Pará. Mas, no dia 6 de agosto de 1988, ´Mainha´, que na ocasião usava o nome falso de Paulo Pereira de Morais, foi capturado na cidade de Quiterianópolis (a 415Km de Fortaleza).

Dantas participou da prisão ao lado dos delegados Francisco Carlos Crisóstomo e José Lopes Filho (então, comissário). Desde aquele dia, passou a responder pelos seus crimes.

Procurado
11 anos de operações policiais culminaram com a captura do pistoleiro no dia 6 de agosto de 1988. ´Mainha´ foi preso na cidade de Quiterianópolis

SANGUE FRIO
Bandido cometeu ´rosário´ de crimes
O ´rosário´ de crimes atribuídos a Idelfonso Maia Cunha remonta ao ano de 1977, quando o então prefeito de Alto Santo, Expedito Leite, foi assassinado em Fortaleza. Desde então, o pistoleiro passou a ser caçado pela Polícia cearense.

Ao acusado são atribuídas, pelo menos, 40 mortes, entre elas a de quatro pessoas vítimas de uma chacina na BR-116, no dia 16 de abril de 1983. Na ocasião foram mortos o prefeito João Terceiro de Sousa; a esposa dele, Raimunda Nilda Campos; o motorista Francisco de Assis; além do soldado PM João Odeon, que havia pego uma carona no carro do político.

Vinganças
Mas o primeiro crime do qual ´Mainha´ respondeu (e confessou) aconteceu na cidade de Quixadá no dia 23 de janeiro de 1982, quando, durante uma discussão de vizinhos, ele foi chamado de ´ladrão de cavalo´ e, por isso, sem hesitar, assassinou Orismilde Rodrigues da Silva, o ´Caboclo Bárbaro´. "Nunca fui ladrão", disse ´Mainha´ após sua prisão, em 1988.

Protegido pelo fazendeiro Chiquinho Diógenes, ´Mainha´ também praticou crimes em junho de 1983, quando trocou tiros e matou dois pistoleiros que haviam sido contratados por seus inimigos no Rio Grande do Norte. O local do embate foi o posto Universal, na BR-116. O mesmo ´rosário´ de fuzilamentos inclui como vítima o despachante comercial Iran Nunes de Brito (assassinado em plena Aldeota, na noite de 17 de junho de 1983).

A prisão
Prender o matador de aluguel mais famoso do Nordeste (chegou a ser capa de revista nacional), virou um desafio para a Polícia do Estado do Ceará. Para esta missão foi destacado o delegado Francisco Carlos de Araújo Crisóstomo. Ele e o delegado Luiz Carlos Dantas, juntamente com o inspetor Antônio, o ´Bigode´, passaram dias a fio no rastro do assassino, até o dia em que conseguiram detê-lo.

Para a Polícia, a morte de ´Mainha´ está ligada a fatos recentes. "Já estamos com pistas", disse Dantas. A história de crimes chegou ao fim da linha.

Sociólogo Explica
Acusado assumiu o papel de justiceiro
César Barreira afirma que ´Mainha´ negava matar por dinheiro. Era um vingador que queria uma ´assepsia social´

Mito ao se tornar o maior pistoleiro do Nordeste, ´Mainha´ negava receber dinheiro pelos crimes que praticava, dizia cometê-los "por questão de honra e vingança". Essas eram as palavras presentes no discurso do criminoso para justificar os seus atos.

César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que, ´Mainha´ ganhou destaque nacionalmente, em especial, na década de 80, época em que mais cometeu crimes, por conta de uma campanha contra a pistolagem promovida em todo o Brasil.

Segundo o sociólogo, ´Mainha´ sempre se colocava como vingador, um justiceiro que cometia os assassinatos no campo da honra, seja para defender uma irmã ou pelo simples fato de ter sido chamado de ladrão. Assim, o criminoso fugia do que é considerado comum na pistolagem, sempre destituída de valores sociais, com um mandante e um executor em uma relação mercenária.

"O ´Mainha´ era um vingador diferente, ele queria fazer uma espécie de assepsia social. Conforme ele, as suas ações estavam ligadas aos problemas familiares, como um filho que tentou matar o pai e por isso deveria morrer", comenta o especialista. Dessa forma, César Barreira comenta que ´Mainha´ explicava a motivação de seus crimes dentro de questões sociais, como a honra e a proteção aos membros da família.


__________
O POVO
COM UM TIRO NA CABEÇA, O PISTOLEIRO CAIU FEITO SUAS VÍTIMAS.
Idelfonso Maia Cunha, lenda da pistolagem, ganhou fama, era temido, guardou segredos e morreu como se fez.

A história é contada por um delegado já com certo tempo de polícia, que pede o segredo de seu nome. Diz que, certa feita, pelos anos 1980, Mainha saiu com um serviço a cumprir. Mataria um fazendeiro, inimigo de outro também dono de terras. Chegou lá, teria fraquejado. O que morreria era um amigo seu. A conversa acabou virando uma oferta, agora da “vítima”. Então Idelfonso Maia Cunha, temido e respeitado, do alto de toda “honra” que se atribuía a um pistoleiro, topou. Dias depois, pelo dobro, matou o mandante.

Talvez esse também tenha sido mais um folclore no lastro de Mainha. Em aluguel de morte, só sabe o valor quem paga e quem recebe. Assim foram as várias histórias sobre ele. Ontem, o homem que caiu com uma bala na testa e outras espalhadas era tido como o “último dos pistoleiros”. Lenda entre os que cobravam para “fazer alguém”, morreu de olhos abertos, cabeça perfurada, num terreno baldio perto do sítio onde morava.

Foi-se o corpo baleado, fica o mito, derrubado num matagal cheio de lixo. Mainha morreu mitificado em seus segredos. É regra de quem cobra para matar ficar em silêncio. Feito ele, vários. Joaquim Leandro, o Catanã, de fama e manchetes nos anos 1950 e 1960, cumpriu pena na cadeia pública, hoje Centro de Turismo, ao lado da Santa Casa. Antônio Feitor, acusado de matar o prefeito de Aiuaba, em 1969; depois o filho, Pantico, seguindo a sina familiar, condenado por matar outro prefeito, de Acaraú, João Jaime Ferreira Gomes, em 1998.

Courinha, outro lendário do meio, disputava a fama de “maior pistoleiro do Nordeste” com Mainha. Contagem palmo a palmo, morte a morte, ou em aferições nunca confirmadas. Quem confirmaria? Às vezes, nem as famílias dos mortos. Irmãos Sebastião e Isídio Ferreira, caçados e presos pelo COE, a elite truculenta da PM cearense dos anos 70 e 80, foram igualmente assustadores e heroificados após seus tiros de encomenda. Todos esses senhores sabedores que o segredo é a grande arma desse negócio de matar e receber pelo feito.

De lá pra cá, a pistolagem mudou o perfil. Banalizou-se. Mata-se em rixas por drogas – geralmente jovens abaixo dos 25 anos, que matam ou morrem. Ou alguém endividado topa a parada. Pistoleiros já não são poucos nem afamados. E cavalo, feito antigamente, só na força do motor da moto ou do carro que usam.

Mainha foi vivendo nos seus “esconderijos”, sempre silenciosamente. Hora dessas, acabava preso, por armas que portava ou confusões em que se envolvesse. Como quando foi preso no distrito de Campos Belos, entre Maranguape e Caridade, em 2002, num batizado familiar. Cercado, trocou tiros com a polícia. Muitos tiros. Era procurado por uma condenação de 28 anos em São Miguel (RN). À época, respondia a outros 58 anos de cadeia no Ceará, em regime semi-aberto. Tiros e anos de cadeia em dezenas.

Diziam que Mainha tinha padrinhos fortes. Além do bom comportamento, seria o que lhe ajudava nas progressões de penas. Há dois meses, saíra do regime semi-aberto para o aberto. Cumpria seus dias na Penitenciária Agrícola do Amanari, em Maranguape, perto de onde morava e morreu. No regime aberto, precisava ir ao fórum só uma vez por mês.

Em entrevista ao O POVO, admitiu não gostar do ex-deputado federal Moroni Torgan, hoje em trabalho missionário de sua igreja dos Santos dos Últimos Dias em Portugal. Foi Moroni, então delegado, que o prendeu e armou holofotes para a clássica cena das algemas num mito. “Ele fez toda a campanha (política) em cima do meu nome”, queixou-se pelo jornal.

Para o sustento, Mainha tinha sítio, topics e usufruía da fama para algum pedido ou proteção. Assim dizem. Ninguém confirma, ninguém nega. Sempre rebateu o tal “rosário de crimes”, jargão da época. Só matou inimigos, assumia. Quixadá seria até região mais segura para circular do que a jaguaribana. Nos presídios, era considerado. Abrigou repórteres do tiroteio no dia em que dom Aloísio Lorscheider virou refém no IPPS, em 1994. Lá, morava na Vila Rica, área nobre do presídio. Solto, morreu com bala na testa, outras pelo corpo, garantia de quem fez o serviço. Morreu de morte matada, como se fez na vida.

CRONOLOGIA 
OUTUBRO DE 1955
No dia 28 de outubro, nasce Idelfonso Maia da Cunha, em Alto Santo, na região jaguaribana. Estudou no colégio Salesiano de Limoeiro do Norte.

AGOSTO DE 1988
Após 11 anos de fugas, Mainha é preso em Quiteranópolis, na Região dos Inhamuns. Admitiu ter executado “apenas” sete pessoas, entre elas o então prefeito de Iracema, Expedito Leite, chacinado em 1977, na Capital.

AGOSTO DE 1996
Mainha sofre atentado no Instituto Penal Paulo Sarasate. Segundo ele, havia complô para matá-lo. Já condenado a 30 anos de prisão, o pistoleiro pegou 12 anos pela morte de Orismildo Rodrigues da Silva, em Quixadá, e 18 pelo assassinato do despachante Iran Nunes.

ABRIL DE 1997
Mainha é condenado a 64 anos de prisão pela chacina de Alto Santo, ocorrida em 16 de abril de 1983. A chacina ocorreu no quilômetro 248 da BR-116, próximo ao posto de combustível Universal. Na ocasião, foram mortos o ex-prefeito de Pereiro, João Terceiro de Sousa, a mulher dele, Raimunda Nilda Campos,o motorista Francisco de Assis Aquino e o policial militar Joâo Leonor de Araújo.

MAIO DE 1999
Em novo julgamento (o primeiro foi anulado), Mainha é absolvido por falta de provas.

NOVEMBRO DE 2001
Depois de um ano e dois meses em regime semiaberto, Mainha volta à prisão.

NOVEMBRO DE 2002
Mainha é condenado por dois assassinatos no Rio Grande do Norte. Como havia voltado para o regime semiaberto em setembro de 2002, foi recapturado em Caridade, em 106 km de Fortaleza. Acabou transferido para Maranguape.

ONTEM
Mainha é assassinado a tiros, em Maranguape. Ele cumpria sentença em regime semiaberto há pelo menos três anos.

>> MAINHA E A FAMA DE PISTOLEIRO
Nos meus 43 anos de jornal, o homem “Mainha” marcou, ao longo desse tempo, as reportagens policiais que escrevi. Foi, sem dúvida, o maior personagem vivo da crônica policial do Estado. Apontado como o maior pistoleiro do Nordeste, Idelfonso Maia Cunha contestava o título. Nas entrevistas que fiz com ele, costumava dizer que jamais matou por dinheiro. Negava jurando a maioria dos homicídios a ele imputados. Sobre a conhecida “Chacina de Alto Santo”, na BR-116, quando quatro pessoas foram mortas, ele dizia que agiu por vingança. Meses antes, o fazendeiro Chiquinho Diógenes, que o tinha como pai, segundo ele, fora assassinado na Capital.

Na “Chacina do Posto Universal”, também na BR-116, afirmava ter agido em legítima defesa. Também se reportava sobre um homicídio que praticara em Quixadá. “O homem me chamou de ladrão de cangalha e, aí, então, eu tive que mostrar a ele que não era ladrão”, disse.

“Eu me sinto até muito importante na vida, ao contrário dos que me acusam”. Fez essa revelação numa das entrevistas que me concedeu. E acrescentou, na época, que a fama de pistoleiro o fez ajudar um candidato a deputado federal ser eleito com grande votação. Referia-se a Moroni Torgan, que, na condição de secretário da Segurança Pública do Estado, na década de 1980, armou estratégias para prendê-lo. Até que Mainha acabou sendo surpreendido em Quiterianópolis (Região dos Inhamuns). Daí pra frente, então, puxou muita cadeia.

>> PERSONAGEM CALMO, EDUCADO QUE DIZIA SER UM "VINGADOR"
Apesar de sempre recusar a alcunha de “pistoleiro”, Idelfonso Maia da Cunha, o Mainha, tornou-se mito sob o signo da força da bala. A fama do cearense de Alto Santo correu o Nordeste na mesma proporção em que cresciam os crimes atribuídos a ele.

O jornalista Nelson Faheina, que entrevistou Mainha quatro vezes, conta que ele era homem astuto, que sabia quem o estava olhando. “Antes de entrar para essa vida de matar gente, trabalhava limpando terra, era sertanejo forte mesmo, mas era inquieto. Quando começou a ser perseguido, passou a andar com revólver de lado”, relata Faheina, que conheceu Mainha na juventude, quando este vendia ovos de galinha caipira em Limoeiro do Norte.

Quem também o entrevistou por diversas oportunidades foi o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, César Barreira. Ele lembra que Mainha falava dos crimes sempre ligando-os ao campo da honra. “Ele dizia que era vingador. Era um representante da família para vingar as mortes”, conta o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV).

Para Barreira, o fato de Mainha ser uma pessoa tranquila e esclarecida favoreceu a criação do mito. “Era muito calmo, educado, falava pausadamente, de forma respeitosa. Se dizia igual a todo mundo”, acrescenta.

Sobre o fenômeno da pistolagem, Barreira explica que Mainha era do tipo ligado a hábitos rurais, que mantinham relação forte com a família. “Hoje os pistoleiros são profissionais, mais urbanas. Qualquer desavença pode ser resolvida com a pistolagem, qualquer pessoa pode ser um mandante”, diferencia.

Para Peregrina Capelo, também professora do Departamento de Ciências Sociais da UFC, o pistoleiro é um agente na cultura de regiões em que as leis são feitas com as próprias mãos. “Ele era um sertanejo protegido por grupos familiares. Foi feito por alguém com costas largas. Os chamados ‘primos pobres’ viviam na serventia, nos núcleos patrimoniais, para defender, lavar a honra da família. Foi um pistoleiro quase em extinção”, resume.


>>POLÍCIA CONFIRMA QUE MAINHA TERIA RECEBIDO AMEAÇAS
O pistoleiro Idelfonso Maia Cunha, o Mainha, encontrado morto nesta terça-feira, 4, em Maranguape, teria recebido ameaças e procurado pessoalmente a delegacia para registrar boletins de ocorrência.
A informação foi confirmada pelo superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, após checar com o delegado e inspetores da Delegacia Metropolitana de Sobral. Ainda de acordo com Dantas, Mainha não teria dado maiores informações sobre essas ameaças.

>> ENTREVISTA - IDELSONFO MANHA DA CUNHA: "A vida marcada por um mito da pistolagem".
[ http://www.opovo.com.br/extras/entrevista/mainha-10-Nov-91.pdf ]


Nenhum comentário: