sexta-feira, 22 de abril de 2011

O JEJUM DA PÁSCOA NÃO É DO ESTÔMAGO, É MORAL!

Leio no Jangadeiro Online que “pescadores trabalham duro para garantir o peixe da Semana Santa”. É que na Páscoa, as pessoas são orientadas para um jejum de carne e não de peixe. E como não jejuam do essencial, da maldade, da ambição desenfreada, da sede insaciável do lucro, do comércio da fé e do consumismo doentio, os comerciantes se ocupam logo em aumentar os preços do pescado. Em decorrência, os que podem promovem lautas ceias em casa ou vão aos restaurantes, depois de um dia de jejum. Tudo isso regado geralmente a um bom vinho, enquanto a imensa pobreza não tem o pão comum para saciar seu forçado jejum.

A Bíblia diz que o verdadeiro jejum não é o do estômago. E o próprio Jesus Cristo e seus apóstolos eram criticados pelos judeus do seu tempo porque não eram dados ao jejum. Registra o Novo Testamento que, no banquete com os publicanos do qual o Mestre participava na casa de Mateus, foram ter com ele os discípulos de João Batista, perguntando-lhe: “Por que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?”. É que o Cristo e seus discípulos eram tidos, ao contrário, por comilões e beberrões. Ele mesmo queixou-se: “O Filho do homem porque come e bebe, dizem: É um comilão e um beberrão, amigo dos publicanos e dos devassos” (Mat.11:19).

Muitos antes, já dizia o profeta Isaías no Velho Testamento (Isa. 58:3-7): “De que serve jejuar se disso não vos importais? É que no dia de vosso jejum, só cuidai de vossos negócios e oprimi todos os vossos operários. Passai vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima a vossa voz”. E questiona ainda: “O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Sabeis qual o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus. É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo e mandar embora livres os oprimidos. É repartir o pão com o faminto, dar abrigo aos infelizes, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se do semelhante.” Como vemos, é o jejum moral dos maus hábitos, vícios e imperfeições, e não o do estômago.

Os religiosos do tempo de Jesus eram muito formais em relação aos costumes, crenças, formas do culto e dogmas. Para eles, o sacrifício físico, o cilício, a abstinência de alimentos e até o holocausto de animais eram as demonstrações mais fortes de obediência e temor ao divino. O Mestre não menosprezava as formalidades, mas procurava mostrar que o aspecto moral na fé prevalecia sobre o formal, como no episódio em que ele e discípulos foram censurados por comer sem antes lavar as mãos. Ele reagiu: “Não é o que entra pela boca que mancha o homem, mas o que sai da boca, porque a boca fala do que está cheio o coração. É do coração que provêm os maus pensamentos, homicídios, adultérios, impurezas, furtos, falsos testemunhos, calúnias. Eis o que mancha o homem, e não comer sem lavar as mãos”.

Ora, é muito mais cômodo atribuir os erros às mazelas do corpo, aos objetos externos do que à fraqueza do caráter, da vontade e do domínio sobre si. Jesus, não condenou a tradição, mas ressalvou que “quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas que mostram um semblante abatido para mostrar aos homens que jejuam” (Mat. 6:16). Hoje, em plena era da internet, não há mais como justificar que, a pretexto de jejuar, alguém se obrigue a comprar peixe pelos olhos da cara para não comer carne para não pecar contra Deus. É assim que o jejum do estômago e não dos atos morais costuma transformar a Páscoa, tempo para reflexão, em período de violência como anteviu Isaías, igual ou pior do que no Carnaval. É o caso de se perguntar: É esse o jejum agradável ao Senhor?

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