segunda-feira, 2 de maio de 2011

O QUE REALMENTE MUDA COM A MORTE DE OSAMA BIN LADEM?

Os norte-americanos finalmente mataram Osama Bin Laden, nove anos e sete meses depois dos ataques de 11 de setembro causarem a morte de aproximadamente 3 mil pessoas nos EUA. Os norte-americanos mataram e depois levaram o corpo de Bin Laden. Isso é vingança, mas também serve para dissuadir futuros atos terroristas. Essa foi a conquista mais importante para os EUA desde que iniciou sua guerra contra a Al Qaeda. Mas o que a morte do terrorista realmente significa?

Primeiro, é bom para a reputação, o poder e a influência dos EUA, que finalmente pegaram seu principal inimigo. A capacidade de Bin Laden de eludir os norte-americanos e a sua aparente impunidade alimentavam, em algumas regiões islâmicas, a imagem dos EUA como um tigre de papel, encorajando extremistas. O próprio Bin Laden disse uma vez que as pessoas apostam no cavalo forte, o cavalo que vai ganhar. Sua morte destaca que os Estados Unidos são o cavalo em que se deve apostar.

Dito isso, matar Bin Laden não aniquila a Al Qaeda. O egípcio Ayman al-Zawahri, o número 2 da organização terrorista, há muito tem desempenhado um papel crucial como chefe de operações da Al Qaeda. E a Al Qaeda é mais uma rede de células frouxas e espalhadas do que uma organização bem estruturada. A AQIM, a versão da Al Qaeda no Norte da África, é uma ameaça real em países como Mali e Mauritânia, mas matar bin Laden provavelmente terá consequências negligenciáveis por lá. Os terroristas da AQIM podem admirar Osama e se inspirar nele, mas eles também tem autonomia. Anwar al-Awlaki, o terrorista ligado à Al Qaeda no Iêmen, também não se sentirá intimidado pela morte de Bin Laden. A capacidade de Awlaki de orquestrar atos terroristas será muito mais afetada pelas convulsões políticas que ocorrem agora no Iêmen.

Também é verdade que a morte de Bin Laden teria importado mais em 2002 ou 2003. Naquele tempo, em países como o Paquistão, muitas pessoas tinham grande apreço por Bin Laden e até duvidavam do seu envolvimento nos ataques do 11 de setembro. Com o tempo, essa visão mudou: a opinião popular virou contra Osama, e já não vemos camisetas estampadas com seu rosto à venda nas lojas. Algumas pessoas ainda sentem admiração por sua capacidade de fugir dos Estados Unidos por tanto tempo, outros são tão antiamericanos que abraçam qualquer um que não goste dos EUA, mas é inegável que Bin Laden foi marginalizado ao longo do tempo.

O declínio da imagem de Osama também significa que ele não será visto como mártir em muitos círculos (por outro lado, se os norte-americanos parecerem muito festivos e triunfantes, podem gerar simpatia para Osama). Muitos paquistaneses, iemenitas e afegãos irão simplesmente dar de ombros e seguir em frente. Sua morte não vai inspirar as pessoas, da maneira que poderia ter inspirado em 2002. E a Al Qaeda já está passando por um momento difícil, porque tem sido ofuscada pelos protestos da primavera árabe. A morte do líder é apenas mais um golpe.

Será fascinante observar a reação do Paquistão à operação militar dos EUA em seu território. Em seu discurso, o presidente Obama esforçou-se para mostrar deferência ao Paquistão e ressaltar que Osama era um inimigo do Paquistão também exatamente porque ele está preocupado com a reação dos paquistaneses.

As autoridades paquistanesas, que sempre negaram a presença de Osama em seu território, não foram informadas da missão com antecedência, um detalhe que pode agravar as tensões com o país. Enquanto não é surpreendente que Osama foi encontrado no Paquistão, a maioria acreditava que ele estava escondido nas remotas regiões tribais. O fato de ter sido encontrado em uma cidade relativamente grande que abriga uma base militar paquistanesa levanta questões perturbadoras sobre o que os soldados do país realmente sabiam sobre sua localização.

Uma questão agora é saber se a morte de Osama vai ajudar a rastrear Zawahri e outros líderes da Al Qaeda, seja no Paquistão ou em outros lugares remotos do planeta. O assassinato também pode ajudar na busca por redes de financiamento do terrorismo.

Haverá um ataque em represália pela Al Qaeda? Talvez. Mas a Al-Qaeda já estava tentando atingir os EUA, e não é como se demonstrasse qualquer resguardo nesse sentido.

O maior desafio agora é usar a morte de Osama para desmantelar a Al Qaeda na região do Afeganistão e Paquistão. Pode ser mais fácil terminar a guerra no Afeganistão agora, facilitando um acordo entre o governo de Karzai e o Talibã. Os talibãs não estão envolvidos em atos terroristas exceto ao conceder abrigo para a Al Qaeda. Mas se combatentes importantes como Osama bin Laden estiverem fora do caminho, um acordo se torna mais viável.

Finalmente, o que a morte de Osama significa para as perspectivas políticas do presidente Obama? Não muito. As eleições de novembro de 2012 ainda estão muito longes e a principal questão política ainda é a economia. Afinal, George H.W. Bush era considerado um herói depois da vitória na Guerra do Golfo, no início de 1991, e em novembro de 1992 foi derrotado por Bill Clinton por causa da desaceleração econômica.

Fonte: Opinião e notícia/ The New York Times (After Osama bin Laden)

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