quinta-feira, 9 de junho de 2011

PRESSIONAR O LEGISLATÍVO LEGÍTIMO. O QUE NÃO PODE ACONTECER É O USO DE FORÇA.

Fortaleza assistiu, na última terça-feira, a um espetáculo condenável de bloqueio da Câmara Municipal por manifestantes grevistas do movimento reivindicativo de professores municipais que tentavam impedir a votação da revisão salarial da categoria. Protestar é um direito acolhido pela democracia, mas não a investida contra o funcionamento de um dos poderes municipais.

A indignação dos professores municipais por considerarem irrisórios os índices salariais oferecidos pela Prefeitura é perfeitamente compreensível e até respaldada por segmentos da população (independentemente da constatação sobre as possibilidades orçamentárias reais do Município). Não entraremos no mérito dessa questão, embora o elemento orçamentário disponível não possa ser ignorado na equação.

Pressionar o Legislativo é legítimo, o que não pode ser aceita é a utilização da força para impedir o funcionamento da Câmara Municipal. Ao fazerem isso os grevistas cederam à irracionalidade e investiram contra a ordem jurídica. Não é possível contemporizar com esse tipo de equívoco, pois ele mina a questão básica da legitimidade das instituições e do próprio regime democrático representativo. Se este é relativizado – mesmo no estrito círculo municipal – seus efeitos não deixam de ser repassados para todo o organismo institucional, ficando a espreita de novas oportunidades para se manifestar.

Por terem agido certo na defesa do Poder Legislativo municipal, não deve levar as autoridades a dispensarem um exercício autocrítico na forma como conduzem sua relação com a categoria dos professores. Esta é muito sacrificada. A solução satisfatória dessa questão ultrapassa o poder de decisão do Município, porém o desafio de uma administração comprometida com a transformação é de, ao menos, conseguir demonstrar que é possível construir uma parceria com a categoria, levando-a a participar da gestão do problema, vendo-o por dentro.

Claro, há segmentos (minoritários) do movimento reivindicatório que sempre são contrários a qualquer acordo, por estratégia política. Mas a grande maioria dos professores certamente não pensa dessa maneira e poderia - quem sabe? - ser sensível a isso se confiasse nas intenções dos gestores.

Fonte: Editorial do jornal O Povo de quinta-feira.  - título original: "crise dos professores: racionalidade  segurança" (veja aqui)

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