quinta-feira, 7 de julho de 2011

HUMOR LIMITADO, AINDA É ENGRAÇADO?

Talvez a pergunta mais coesa para esta questão seria: humor com limites, ainda continua sendo humor? Explica-se: a edição de maio da revista Rolling Stone traz na capa o jornalista e comediante Rafinha Bastos (do programa CQC, da Rede Bandeirantes, a BAND), vestido de Jesus Cristo e um texto que tenta explicar por que o humorista acha engraçado fazer insultos. Ele faz parte da geração de artistas brasileiros que aderiram ao stand-up comedy, show de humor, muito popular nos Estados Unidos, em que o comediante se apresenta sozinho, sem figurino nem personagens. A ideia é transformar situações cotidianas em piadas.

Os artistas norte-americanos costumam usar suas próprias características para ilustrar o show, como o fato de serem negros, baixinhos, gordos ou falar de suas profissões, por exemplo. Essa característica do stand-up nem sempre é respeitada em terras brasileiras. O artista faz piada sobre negros, sendo branco, por exemplo, e isso pode soar ofensivo. Como no caso em que Rafinha Bastos, que é gaúcho, disse que em Rondônia só há gente feia. O governador do estado, Confúcio Moura, está processando o artista.

Uma das piadas que também não emplacou no show de Rafinha, mas da qual ele não desistiu, diz que todas as mulheres estupradas são feias e os homens que as violentam, em vez de cadeia, merecem abraços. A polêmica não está em torno do tema violência sexual, usado por inúmeros artistas, mas a maneira como ele é tratado por Bastos, que afirma: ”no meu show eu falo o que penso”.

A postura do comediante diante da piada que não deu certo abre o debate sobre os limites do humor. Muitos humoristas já entenderam que há limites que devem ser respeitados. Jorge Louredo, ator famoso por interpretar o personagem Zé Bonitinho, em debate realizado no Centro Cultural Banco do Brasil no último dia 3, disse que humor deve ser tratado como coisa séria e que a experiência ensina que existem coisas que funcionam para alguns e para outros não. “Não existe humor universal. O que é engraçado aqui não é em outro lugar. Humor é coisa séria. Humor deve ser usado para resgatar uma pessoa da dor ou da repressão. Nunca para ofender. O humor é livre, mas o humorista tem que ter bom senso”, argumenta.

Rafael Cortez,  jornalista e comediante, que também esteve presente no debate, concorda com Louredo. Ele é repórter do programa CQC, em que Bastos é um dos âncoras, mas pensa diferente do colega. “Na teoria não deveria haver limite para o humor, mas na prática não é assim. Tem limite sim. Você não quer ser mal visto. Você fica chateado se uma piada sua não emplaca e você amadurece com isso e começa a se policiar mais”.

Já Rafael Bastos disse em entrevista ao portal CQC que tenta não limitar seus temas. “Eu me direciono somente pela graça. Se acho engraçado, eu falo. E acho que tem que ser assim, o alvo do humor não deve ter limite. Para mim, humor controlado não é humor”. Além disso, o comediante diz que o seu público alvo são pessoas que pensam como ele. “É isso que eu exploro: fazer humor para pessoas parecidas comigo. Deu certo. Tudo o que faço sou eu, não interpreto nada. Todas as minhas criações têm como inspiração minha própria vida”.

O assunto divide opiniões na internet. Há aqueles que concordam com os comediantes que defendem o humor sem limites e criticam àqueles que se sentem ofendidos e recorrem ao judiciário para resolver a questão. Muitos acham que existe uma corrente politicamente correta que se esquece do direito à liberdade de expressão. Mas o escritor Alex Castro, dono do blog Liberal, Libertário, Libertino, um dos mais lidos da internet brasileira, diz em sua página que estes que reclamam da “patrulha politicamente correta” esquecem, — ou não sabem — o que significa liberdade de expressão. “Liberdade de expressão é o cara poder fazer piada sobre mulher estuprada e nós podermos criticá-lo por isso. A liberdade que eles querem é a liberdade de falar os maiores absurdos e não serem criticados por isso. Falar besteira, qualquer criança fala. Adulto é quem sabe que falar significa se abrir para a possibilidade de ouvir a resposta”.

Castro ressalta que é contra qualquer lei que regule o discurso e o pensamento. Para ele leis deveriam regular ações. Além disso, ele relembra que liberdade de expressão dá a cada cidadão o direito de falar o que quiser, mas também o dever de responder por suas palavras. “Não podemos esquecer nunca a função social mais importante da liberdade de expressão: sem ela, como saberíamos quem são os idiotas?”, finaliza.

Caro leitor, Em sua opinião o humorista deve se pautar pelo que ele considera engraçado, ou ele deve pensar em primeiro lugar no público? Você acha que deve haver limites para o humor?
E você, já se sentiu particularmente ofendido com alguma piada que ouviu? 

Fonte e Texto: opinião e notícia, com adaptações.

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