terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ADÍSIA SÁ: "FALTOU ALGO..."

Em encontro com políticos e jornalistas Cid Gomes dizia do projeto para o seu novo período de governo: contou nos dedos Cultura, Saneamento Básico, Habitação, Saúde, Educação. Parabéns, mas faltou algo. E como as coisas estão com cheiro de novo, é bom lembrar que fica sempre um “pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas.” Fica sempre um pouco do que foi dito e esquecido.

E por isto deve ser lembrado: não “cobrado”, porque dever é mais do que obrigação, é permanente: é ético.
Faltou na fala do governador algo que está à nossa frente, desnuda, libelo, “eu acuso”. Estou me referindo à pobreza.

Outro dia fui visitar um amigo na Rua da Paz. Tomei um susto. Estava noutra cidade. Aquela região não é Fortaleza. Muito menos Ceará. As ruas que cercam a Beira Mar são de outro Estado. De outra cidade. Até as pessoas que circulavam pelo calçadão eram diferentes da “gente”: na postura, no andar... O sonho acabou: vi-me de novo na minha cidade e, nela, o meu Estado. O Ceará. E o governador Cid.

A pobreza/miséria do Ceará, quase 50% da população, compreende pessoas/famílias que sobrevivem com metade do salário mínimo. Famílias de no mínimo quatro pessoas. Quatro pessoas que contam com menos de trezentos reais mensalmente ou R$ 10 por dia. Dez reais por dia... Um refrigerante e um sanduíche.

São conterrâneos que não têm condições básicas de saúde, moradia,alimentação, transporte público. Terrível quadro: cerca de 50% desse contingente é constituído de crianças de até 15 anos de idade. Parte visível dessa população vive na zona rural e na periferia das chamadas grandes cidades cearenses.

Nisso não falou o governador no encontro com políticos e jornalistas e nada lhe é estranho, não apenas na observação direta do quadro mas através da leitura do documento “Ideias para o desenvolvimento econômico com justiça social”, divulgado pelo
Laboratório de Estudos da Pobreza (Caen/UFC).

Releia o documento, governador, releia: ele, tenho certeza, está ao alcance de sua mão...

Autor: Adísia Sá, jornalista do grupo O Povo de Comunicação

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