domingo, 23 de janeiro de 2011

NÓS, OS DETETIVES DO TEMPO.

É cansativo abrir a revista, comprar o jornal na banca ou ligar a TV e ver que o apelo para a busca do maior ibope, se dá com a apresentação/exibição da imagem mais catastrófica, na narração mais entoada de barbárie ou do vídeo-flagrante mais aterrorizante, que nos faça dizer: “meu Deus!”.

As chuvas não param e a imprensa continua indo no embalo do tempo, com o mesmo produto na prateleira á tempos. Também pudera: não tem outro assunto para cobrir. O povo de fato, quer saber dos últimos detalhes das chuvas que estão deixando em um estado a cada dia mais miserável, sobre os moradores das áreas atingidas pelos últimos temporais resultantes da loucura do homem, digo, do tempo. Saber sobre esses detalhes que realmente sofrem uma atualização a cada hora, não é cansativo. Cansativo mesmo, é a forma como eles exibem as reportagens que integram o que parece ser uma série que se impõe de acordo com cada informativo.

Dou como exemplo o Jornal da Globo. É o único que tenho tempo de assistir e por isso o uso. Contudo, não foi difícil de encontrar nele o que parece ser o seguimento de uma tendência dos telejornais globais: sempre a cada ao vivo com um repórter que traz os últimos números das vítimas, vem uma reportagem em tom de lamento, chororô e miserabilidade. É assim em todos. Nunca vi, porém, em nenhum deles, o feito de reportagens que apresentam um grau de febre elevado de importância: uma avaliação que seja, ou mesmo uma mostra clara e sem parcialidade, de que mais de trinta projetos com o intuito de minimizar os efeitos devastadores das chuvas, estão parados no congresso nacional, por exemplo. Isso sim, é importante. Mas não é apresentado.

Se as matérias de repórteres com narrativas tristes e de modo cabisbaixo e as reportagens sobre assuntos como o dos projetos para amenizar os efeitos das enchentes barrados na justiça forem colocados sobre uma balança, certamente pesará o lado dos projetos das enchentes barrados.

Todos os profissionais do jornalismo estudam ao menos na teoria, sobre (o que hoje já esta em crise e bem escasso) jornalismo investigativo. E aprendem que é preciso investigar para conseguir uma boa apuração. Mais infelizmente os velhos ofícios do bom jornalismo não estão sendo praticados. A natureza impõe sua pauta, mais é preciso investigar e encontrar noticias mais interessantes ao menos, que também imponham sua necessidade de serem informadas. Veja esta, por exemplo: Enquanto a bancada ruralista ainda tenta acelerar um projeto, com relatoria do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que reduz ainda mais as exigências para proteção das margens dos rios, dispensam pequenas e médias propriedades de manter reservas legais de floresta e tornam fato consumado os desmatamentos ilegais.

É preciso então, volta a organizar os papeis que estão sobre a mesa e definir o que é e o que já não é tão importante, haja vista outras noticias que estão na fila (e na agenda de muitos profissionais do ramo) á espera de ser noticiada. Precisa-se de criatividade para publicar na revista, mostrar na TV ou exibir no jornal, matérias e reportagens interessantes e de prestação de serviço á população, uma vez que o jornalismo tem seu papel de contribuição Junto á sociedade. Matérias boas como a escrita hoje, na editoria “regional”, no Jornal cearense Diário do Nordeste, pela repórter Karoline Lima (Leia a matéria aqui). Ao contrário de seus outros colegas, a repórter comprou a passagem certa, e pegou carona no ônibus do despertar para boas pautas. Foi esperta: viu que o que não se falava em outro assunto á não ser os deslizamentos de morros no Rio de Janeiro, e escreveu belas linhas de apuração sobre um possível desmoronamento de terra na região do Maciço de Baturité. Mostrou além dos moradores que sofrem com o perigo á qual são expostos, deu luz as partes: questionou aspectos importantes como a geografia montanhosa da região, o crescimento imobiliário que vem crescendo e tomando de maneira desordenada as áreas que representam risco além do desmatamento que acontece na região e da desordenada ocupação de locais para construção de casas.

Em resumo dos fatos aqui apresentados, um questionamento: Como a imprensa poderia contribuir para alterar esse quadro de insensatez? Certamente, atacando sem concessões o projeto criminoso que alivia as responsabilidades quanto à preservação ambiental.

Outra forma de contribuir é esclarecendo onde falham as políticas públicas (num dos debates da televisão sobre os acontecimentos no Rio, um comentarista da GloboNews criticou o fato de o governo federal anunciar verbas que nunca chegam às vítimas de catástrofes. Foi preciso que outro comentarista, especializado, esclarecesse que as verbas só podem ser aplicadas mediante a apresentação de projetos por parte das autoridades municipais e estaduais), esclarecer como funciona e cobrar eficiência nessa cadeia burocrática seria uma atitude positiva da imprensa.

Outra atitude seria trocar a visão imediatista pelo olhar de longo prazo, ajudando a sociedade a exigir medidas preventivas e a se mobilizar contra iniciativas irresponsáveis como a da flexibilização do Código Florestal.

Dito isto, vamos agora dar nomes aos bois. E você é o boi da história. Não, por favor, não use de malicia ao interpretar de seu modo o que afirmo. Apenas quero com isso, justificar o título deste artigo. Assim como a imprensa tem o seu, nós também temos o nosso papel. E um papel importantíssimo diga-se de passagem.

Em tempo: depois de tantas mortes, o governo resolveu anuncia um sistema de alerta e prevenção contra as catástrofes ambientais como o a que ocorre no Brasil afora. Em suma, um plano de emergência (algo invejável, e de sucesso em outros vários países) contra as enchentes decorrentes em sua grande maioria das chuvas em demasia. Falou-se no plano, mais já se esqueceu. A própria imprensa por si só (de novo), já esqueceu! Perceba, ela nem mais falou no assunto, á não ser no dia em que foi anunciado o plano. E o fez de maneira mínima, algo rápido e de modo “the flash”. Esqueceu também de dizer que já existe um plano como esse criado e preparado para entrar em ação ainda no governo Lula, mas que fracassou.

Sobre o plano: O cérebro do sistema de alerta e prevenção de desastres será o supercomputador já instalado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP), batizado de "Tupã", palavra em tupi-guarani para deus ou trovão. O novo sistema, no entanto, só deve funcionar a pleno vapor no fim de 2014. Pelo planejamento anunciado, áreas de risco serão alertadas até seis horas antes de deslizamentos e inundações. A meta é reduzir em 80% o número de vítimas em áreas cobertas pelo equipamento até o final do governo Dilma.  

Estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas vivam em áreas de risco no país. No projeto, apenas a criação da rede de radares meteorológicos custaria cerca de R$ 110 milhões, que seriam usados ainda na compra de 15 radares.

É lindo! Comovente. Uma ação brilhante. Mas, será que vai vingar mesmo? Obras assim como esta, que demoram anos para ser colocados em ação, costumam cair na onda do esquecimento e ficar somente no disse que disse. E é ai que entram em ação nesta novela que se inicia na busca de uma iniciativa firme e consisa para tentar ao menos amenizar estes efeitos das próximas vezes, nós, os detetives do tempo. Existe em nosso guarda roupa, uma farda de detetive tal como um inspetor bulgiganga. Viste-mos ela e seguremos nossa lupa, para continuarmos de olho vivo nesta novela que começa (na teoria, ao menos). E não esquecemos, assim como a imprensa, do nosso ofício: olho vivo e fazer valer nossa cansativa espera na fila do voto, no dia 3 de Outubro.

Temos além de estar com olho aberto, sempre aberto, ter a consciência de que temos uma parcela de culpa no cartório. Tivemos outras vezes quando elegemos um presidente que sofreu um processo de impeachment. Lembra? Se tivéssemos exercido corretamente nossa democracia, nada disso teria ocorrido. Então, avante companheiros! Por enquanto, ainda não sabemos se erramos de novo. Enquanto isso estejam posicionados meus detetives. Mais uma ação começou. Um CSI da vida real, e você é o protagonista principal desta trama, que, torçamos para que tenha um final feliz, digno de filmes. 

[AINDA RESTA...] Existe uma questão primordial para tentarmos solucionar estes desmatamentos. É a tomada inapropriada de terras por parte de moradores de favelas, que saem do perigo em busca de um lugar aparentemente abandonado, e que caem em um sunho ilusório, de que estarão, longe dos morros e dos tráficos, protegidos. Ledo engano. O perigo mora embaixo de vossos pés, e com isso, há uma culpa sobre esse moradores. Mais este é um outro assunto, que remete á uma polêmica e extensa questão política, que merece um outro artigo. Algo que preparo para ler-mos em outra oportunidade.

Nenhum comentário: