quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Para saber mais >> CRISE NO EGITO

A crise política deflagrada, há mais de uma semana, sobre o governo do Egito, resulta em parte do esgotamento da ditadura conduzida pelo presidente Hosni Mubarak, até agora aparentemente respaldado pela estrutura militar que o rodeia. A multidão reunida nos últimos oito dias na Praça Tahrir, epicentro das reações populares, por enquanto, deixa transparecer não seguir lideranças convenientemente preparadas para a deposição do governo. Para entender o fenômeno, é necessário entender suas causas dissimuladas.

Por sua cultura milenar e posição geopolítica estratégica, o território egípcio atraiu o interesse das nações colonizadoras desde a antiga Roma. Nos tempos modernos, Reino Unido e França o dominaram, influíram no seu destino e exploraram o potencial econômico, por conta da inépcia do deposto governo imperial. Entre 1882 e 1922, a Inglaterra controlou o cenário egípcio, dando origem às reações nacionalistas.

Em 1952, como fruto de desgaste político, o rei Faruk foi destronado, dando lugar ao surgimento de grupos de jovens nacionalistas, com vínculos militares, que colocaram o Egito, por sua posição estratégica entre Ocidente e Oriente, no contexto da Guerra Fria. Em 1954, como fruto dessas transformações internas, instalou-se o governo de Gamal Abdel Nasser, sintonizado com essa linha de vanguarda e voltado, prioritariamente, para a juventude.

A política do "contrato social" realizada por Nasser deu visibilidade interna e externa ao governo nascente, por haver libertado as terras árabes da exploração promovida pelas potências coloniais, passando a subsidiar os gêneros de primeira necessidade e a garantir emprego para seus cidadãos. Daí a projeção do longo governo de 17 anos de Nasser e sua inclusão entre os ciclos responsáveis pelo desmonte da exploração estrangeira das riquezas egípcias.

Hosni Mubarak, de formação militar e herdeiro político de Nasser, optou por outro desiderato. Há 30 anos no poder, governando com pouco espaço para as liberdades públicas, liberalizou a economia de tal ordem a manter, apenas, um moderado crescimento econômico, seguindo estratégia oposta ao modelo de Nasser, empobrecendo milhões de pessoas. Pelos dados da ONU, 23% da população do país vivem abaixo da linha da pobreza, com a juventude sacrificada.

A deposição do governo da Tunísia, há poucos dias, serviu como sinal para as manifestações de rua, no Cairo. Não há, contudo, um fio indutor nas pressões exercidas para a renúncia do governante, que dá sinais de resistência, apesar do esgotamento do regime. Os partidos políticos e a Irmandade Muçulmana são, ainda, atores secundários, assim como o dissidente Mohamed ElBaradei.

A crise promovida pelos desempregados já afetou a indústria do turismo, responsável por receita anual de US$ 10,8 bilhões deixados por 12,5 milhões de visitantes no Egito.

No Egito ferve um caldeirão alimentado por crises econômica, política e social, pela pressão externa de seus próprios aliados e pelo papel de haver sido, outrora, território disponibilizado para ajuste de contas nos conflitos entre as nações árabes.

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