domingo, 10 de abril de 2011

ESTAMOS CARECENDO VOLTAR A ESCOLA?


Na época em que estudamos, aprendemos coisas que arisco a afirmar que jamais esqueceremos. Exemplos: a forma do PI, as equações de segundo grau, os tipos de linguagem, as escalas de temperatura da física, as antigas civilizações da história. Mais esta semana, quando os profissionais já graduados, deveriam mostrar que eram alunos exemplares em temos ainda de escola, deixaram transparecer justamente o contrário. Ao menos, para a classe de jornalistas (ou aprendizes deles). Ser jornalista é uma profissão que traz uma carga de uma importância relevantemente pesada. Assim como o médico tem a responsabilidade de diagnosticar bem um paciente para que nada de errado venham acometê-lo, os jornalistas também deverão assim fazer. Todos tem um paciente (ou na prática, vários), que recebem seus diagnósticos todos os dias, bem cedo, na porta de casa, com os rabiscos que tentam explanar o que de mais importante, novo e interessante merecia ser informado dentro de um limite de 24 horas. E ser um bom profissional, diga-se, não quer dizer que ele saiba escrever bem, que ele tenha talento ou que ele seja determinado. Acima de tudo, é preciso ser um bom profissional ainda em tempos de teorias, quando aprendemos aquilo que deveremos usar e praticar dia após dia, como um ofício afim de que se busque a perfeição (ou ao menos, tente busca-la).

É do conhecimento de todos, que hoje, o julgamento de um bom profissional na área em que atua, tem sua sentença iniciada quando ele ainda levava o caderno debaixo do braço, pra ouvir o que seu mestre teria de ensiná-lo em uma classe. Deveria ser assim com os jornalistas. Logo eles, que exercem um dever de importância insigne para a sociedade, que lhe deposita toda sua parcela de confiança no que ler, assiste, acessa ou ouve. Deveria, no futuro. No presente, a conjugação ainda é plano de um dia que se vem.

Fundamento este meu argumento no possível esquecimento de uma lição de significado crucial para esta classe hoje deteriorada: a lição de René Descartes, da Filosofia. Vale recordar:  Ainda jovem, ele manifestou o desejo de conhecer a natureza do homem e do universo. Depois de estudar filosofia, conscientizou-se, sobretudo de sua própria ignorância. Para ele, não devemos confiar (cegamente) no que lemos em livros e não podemos confiar sequer no que os nossos sentidos nos dizem. Queria provar as verdades filosóficas, mais ou menos como se prova um princípio da matemática, empregando para tanto a mesma ferramenta que usamos nos trabalhos com os números: a razão. Chegou à conclusão de que a única coisa sobre a qual podia ter certeza era a de que duvidava de tudo. Se ele duvidava, isto significava que ele era um ser pensante. Ou como ele dizia: "cogito, ergo sum" – "Penso, logo existo". Se esta se faz essencial, os argumentos de Sócrates, tem ainda mais sentido. Dizia ele, que o verdadeiro sábio é aquele que se coloca na posição de eterno aprendiz. “Só sei que nada sei”.

Todavia, foi esta semana, e agora depois de justificar o que a partir de agora tornarei claro, foi que a má disciplina dos estudantes de jornalismo se mostrou. Ao menos, no campo de aprendizagem filosófica, onde veria ser lá, fundamentada um modo operandi jornalístico que se faz essencial.

Um estudante de engenharia metalúrgica, que também é policial civil, entrou na Universidade federal do Ceará, a UFC, armado com um revólver. Ele teria ameaçado os estudantes depois que eles, por sua vez, protestaram contra a sua posição de ter estacionado o carro em um local proibido.

Teria sido realmente assim mesmo que teria se dado o desenrolar dos fatos? Vamos ver caso por caso, e questionar aquilo que julgamos como a fonte mais confiável e que trás as melhores notícias.

O Jornal O Povo, considerado o primeiro jornal a ter uma plataforma digital no Ceará, informou o caso afirmando tudo por meio de um estudante. Não foram dois, três, ou uma multidão que se falava em coro, o que deixaria subentendido nessas ocasiões, que o coro do povo eufórico, era a pluralidade o que de fato, havia acontecido. Sem contradições do tipo, esse disse de um jeito, aquele disse de outro. Mas apenas um, um único estudante relatou o caso á o repórter que nem se identifica. (Vergonha? Sensação de dever mal feito, na pressa de querer ser o primeiro?). É um caso a se analisar. O Povo tem fama de ter sido como argumentei ora inicialmente, o primeiro jornal a ter um conteúdo idêntico às folhas impressas, em versão online. Mais é ai, que o fato se faz questionável. Na pressa de dar o furo (o pecado dos jornalistas, segundo o meu professor Alejandro Sepúlveda), o jornal errou. O desdenhar do fato ocorre no finalzinho da tarde para o início da noite, e às seis e quatro da tarde, a notícia já estava publicada, o que justifica a argumentação anterior. Outra: e o nome do envolvido? Não existe na matéria. O jornal deixa a matéria incompleta. Quando lemos algo, temos a impressão de que pela visível credibilidade daquele jornal, vamos saciar a sede de curiosidade de temos respondidas seis questões principais: O que aconteceu? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Como aconteceu? Porque aconteceu? Quem estava envolvido?. Se acontece um assassinato, o jornalista tem o dever de apurar quem é o morto. Ora, mortes acontecem todos os dias, e isso, imcompleto, não é notícia, é fato. Fato, é morte. Notícia, é quem morreu. Não é bem assim que se ver na matéria. E a imparcialidade daquele que se prega como “o melhor”? Só ouvem as vítimas (ou possíveis). Acusado, tem ou não tem direito de resposta? Ate o fechamento deste blog, a notícia no jornal O Povo, já tinha 84 comentário, além de 145 Twetts e 543 recomendações no Facebook. Os comentários são um caso a parte e nem sequer merecem atenção. Provém de pessoas que pecam ao ler um único jornal por crer que ali é que esta a melhor noticia, a melhor apuração. Existe uma máxima no jornalismo: pior do que não ler nenhum jornal, é ler um só jornal. Pobres leitores. Frutos de uma sociedade ludibriada pelos dedos pecadores e errôneos de fascistas cidadãos, dito jornalistas.

Diário do Nordeste, de longe, o jornal de maior circulação no estado, pertencente á fundação Edson Queiroz, que além do jornal tem uma empresa distribuidora de Gás GLT (O gás de cozinha), uma empresa de água mineral, uma empresa de tintas, uma de castanha de cajú, uma de sucos, um sistema de comunicação que integra três TVs, sete rádios, além de um provedor de canal por assinatura e uma universidade que recebe incentivos fiscais do governo,  também noticiou o caso. O tamanho da empresa nos faz pensar que deveria ser lá, que encontraríamos a informação mais destrinchada, a melhor apuração e uma melhor abordagem dos fatos, uma vez que é assim que ele se vende (“o maior e melhor jornal do CE” e mais recentemente, um novo slogan, “informação com credibilidade”). Apesar de ouvir a polícia, ao invés de estudantes que compreendem o fato de maneira variada (o telefone sem-fio) e informar o nome do envolvido, na prática, a ação foi igualmente a do jornal concorrente. Não ouviu o acusado, e expõe palavras afirmativas como sendo oriundas do acusado, tais como “ameaçou”.  Mesmo com três repórteres escrevendo a matéria, a informação ainda deixou a desejar.

O site Jangadeiro Online, do sistema Jangadeiro de comunicação, também do Ceará, informou o caso assemelhando o fato á (veja) tragédia que ocorreu na escola de realengo no rio de Janeiro. Pergunto-lhe: qual a semelhança de um caso entre um policial que tem porte de arma por direito, mérito e conseqüência do seu trabalho, com uma espécie de genocídio em um bairro do rio de janeiro, imortalizada por “Aquele abraço”, uma das composições mais cantadas de Gilberto Gil? (“alô, alô, Realengo. Aquele abraço”)? Resultado da pergunta: Apuração fraca e podre. Causa-me espanto, o sistema jangadeiro de comunicação que tem a frente da editoria de matérias policiais, o saudoso jornalista Nonato Albuquerque, dono de um texto refinado, pôr uma matéria torpe e de conteúdo sensacionalista, sem revisiona-la ou ao menos, analisar que ligação teria o caso com a tragédia de realengo. O diretor daquele veículo, Chagas Vieira, antes repórter policial da casa, e que deveria ter aprendido praticando madrugadas adentro como se fazia uma boa mostragem de um bandido ou assassinato, mostra que não aprendeu. Se tivesse aprendido, deveria explicar para seu redator dono do texto, que policial tem porte de arma por mérito e deve te-la sim! Imagine um policial indefeso, sendo marcado por um bandido que, fruto da justiça operante que nos deixa indignados, é solto após ter sido despachado de maneira procedente correta pelo escrivão por exemplo. Imagine, se este por sua vez, resultado com o exercício da profissão do policial, resolvesse marcá-lo a ponto de querer matá-lo? Ou será que esquecemos dos mais de 140 policiais mortos por bandidos, quando estes por sua vez estavam em momentos sem suas respectivas armas? O que poucos sabem, é que policias como o escrivão covardemente acusado ate agora, tem treinamento psicológico e psicotécnico de armamento. Ate um curso de tiro ao alvo estes possuem. Polícia não tem arma para matar. Tem para se defender. Veja  que fez um policial com o assassino das 13 crianças do Rio: atirou em sua perna a fim de frear a catástrofe. Despreparo estava embutido no menino. Julgue agora: quem é despreparado, o menino inexperiente ou o policial? Simples eu diria... Se fosse para analisar o caso como o fez, focando o despreparo, deveria ter feito uma análise da época em que um aluno, em 2009, adentrou com um revolver na cintura na UECE. O fato só foi desmascarado, quando por azar do próprio estudante (que não era policial, diga-se) deixou a arma disparar em sua coxa.

Finalizando, a folhaonline, o melhor e maior jornal do Brasil (pelo menos para os outros. Não para mim), também noticiou o caso. Lá, uma ressalva se faz necessária. A entrevista com o superintendente da policia Civil no Ceará, e o uso de verbos que deixam perguntas e duvidas sobre a noticia, tais como “após supostamente”, e “teria”. Contudo, peca ao também não informar o nome do acusado.

Separando o joio do trigo: se os jornais tivesse ouvido o acusado, teriam descoberto que Luis Cláudio da Silva Reis, não estacionou o carro em local proibido. Por engano, ele teria estacionado o veículo em um local que teria sido acordado entre os estudantes do bloco de engenharia, que não mais se fizesse tal atitude. Não havia uma placa sequer que sinalizasse que aquele local era de fato, restrito. O repórter (ou os repórteres) esqueceu desta observação e o fato se passou despercebido. 

Um estudante arrisca em afirmar sem titubear, que o problema era que o local onde Cláudio teria estacionado o seu carro, faria com que os demais realizassem manobras mais precisas e cuidadosas. Ele não sabia, e logo partiram para a “justiça com as próprias mãos”. Protesto, nem sempre é válido. No caso, não foi.  
O pobre escrivão por sua vez, não sabia do acordo ate então. Soube, quando teve seu carro fruto de um vandalismo em série. Riscaram o automóvel, que rodeado de estudantes eufóricos o chamando de otário, deixavam um bilhete com o mesmo nome no para brisa. Cláudio teria entrado no carro para ir embora, quando nesta atitude, deixou a sua arma, que estava sem munição a vista quando a guardava. Só teria levado a arma consigo – desarmada, ratifico – porque os próprios estudantes tempo desses, roubaram a arma do reitor que estava no carro á época do ocorrido. (o jornal não noticiou isso...)

Ouvir, apurar de forma coesa e precisa, e duvidar. Julgar se esta bom fica a pá de nosso patrão: o leitor. Só ele, poderá afirmar onde esta bom ou ruim. O risco que corremos em tempos de migração de jornalismo online, é justamente este: na pressa de querer ser o primeiro, acaba ficando para trás. E os leitores, acreditando que aquele que lêem é o jornal que tem a melhor fonte, esquecem de conferir nos demais a mesma informação. E ai, começam os julgamentos que merecem ser questionados.

Jornal, não existe para formar opinião. Seu dever é puramente informar. E informar bem.

Na prática todos somos jornalistas, e devemos sempre julgar se o que vemos na TV, ouvimos no Rádio, acessemos na Internet e lemos no jornal.

A ressalva que se mostra necessária é em base numa revolução vivida pelo país recentemente, depois de 48 anos, os livros de filosofia, proibidos deste a época da ditadura, voltaram a ser estudados nas salas de aula das escolas do país. Talvez se um repórter revisasse a lição de Sócrates ou Descartes, chegaríamos a colher os frutos de um jornalismo mais digno. Se preferirem, as várias bibliotecas estão recheadas dos belos versos da escritora Clarisse Lispector, que duvidava ate da própria essência.

O conselho esta dado. Não custa nada. Ler e aprender de novo, seriam o preço para não pecar novamente. Quem sabe assim, com o espírito de um eterno aprendiz, como disse Descates, teríamos um jornalismo mais puro e coerente.  

Um comentário:

clebiaeducando disse...

Quando se questiona algo, coloca-se em jogo muitas consequências. Na maioria das vezes fica o dito pelo não dito e a coisa entra em controvérsia. Nada melhor do que ouvir ambas as partes antes de um assunto gerar polêmica e ocasionar tantos danos para os envolvidos. É sempre bom repensar antes de publicar. Abraços meu querido.